Fernanda Monteiro

exposições:

S. Calendário ARCO 2021. Selva_gem. Alegoria da Terra em Movimento. Silvana Sarti, Rosalina Burgos, GIL, Giuseppe Laudanna

Selva_gem: Alegoria da terra em movimento


 

Iniciando o ano de 2022, a Fernanda Monteiro Galeria de Arte inaugura o Calendário ARCO com a mostra “Selva_gem: Alegoria da terra em movimento”, que reúne dois potentes trabalhos que discutem a devastação ambiental através de um viés metafórico: “Ondas Longínquas” e “Performance Escultórica da Mulher Árvore”, de autoria dos artistas sorocabanos Silvana Sarti e Gilberto Alves Gomes (GIL), fotografia de Rosalina Burgos, música do italiano Giuseppe Laudanna e curadoria de Fernanda Monteiro.

 

Os projetos que integram a exposição nasceram de performances propostas por Silvana Sarti, que foram interpretadas e ressignificadas pela ação fotográfica de Rosalina Burgos, que vai além da simples documentação, imprimindo pessoalidade e plasticidade em seus recortes e composições; e através da modelagem matérica do movimento proposta por GIL, que a partir da ação performática, cria figuras híbridas que corporificam a transfiguração da terra em mulher.

  

Além de derivados de performances realizadas por Silvana Sarti, a ideia de curadoria conjunta dos projetos, proposta por Fernanda Monteiro, decorre de um núcleo de interesse compartilhado, qual seja a alegoria da terra em forma de mulher que chama a atenção para a paulatina destruição da natureza. Em “Selva_gem”, destaca-se o aspecto de “gem”, raiz, progenitura, e “selva” como algo bravio, indomável, a força que emerge do meio natural que se impõe apesar das atrocidades cometidas pelo homem, que insiste em se colocar a parte da natureza, usando-a para satisfação de interesses individuais em detrimento do coletivo.

 

Há ainda a questão do feminino essencial, da mulher como árvore da vida, vetor da existência, outro aspecto recorrente no trabalho de Silvana. É interessante notar que em “Mulher Minotauro”, trabalho exposto em 2017 na Fernanda Monteiro Galeria de Arte, a artista já recorreu a mitologia para abordar questões do feminino, corporificadas em um mito originariamente masculino como o Minotauro.Também em “Trilogia da Vida: Anima Latente, alegoria da Alma Vegetal” (exposto na Itália pela primeira vez em 2018 e em Sorocaba em 2020), a imagem da terra como mulher, sua fecundidade e sabedoria ancestral é um dos pontos fortes da fotoperformance realizada em conjunto com o artista Fábio Florentino.

 

Em “Ondas Longínquas”, Sarti se sensibiliza por majestosas árvores que jazem na área da praia, arrancadas do solo desde a raiz, e faz um paralelo entre o ciclo da vida e o vai-e-vem do mar. Neste cenário, de Ilha Comprida, em fevereiro de 2021, ocorre o encontro entre a artista visual e Rosalina Burgos, geógrafa, que, através da fotografia, explora plasticamente galhos e raízes, além de denunciar a poluição da praia por resíduos sólidos “regurgitados”pelo mar.

De acordo com Silvana: “O corpo de uma mulher madura  carrega a alma da terra, a sabedoria ancestral, memória do passado que olha para frente. A mulher árvore, híbrido raíz/carne se funde às cores da praia e no canto profundo vindo de “oltremar”, trazendo a força telúrica da tradição salentina, na música composta por Giuseppe Laudanna exclusivamente para este trabalho”. Esta, inclusive, não é a primeira parceria entre Laudanna e Sarti, lembrando que o músico italiano também assina a composição criada para “Trilogia da vida”.

Após a “Trilogia da Vida”, fotoperformance que explora a cosmovisão ameríndia de que tudo está intimamente conectado, considerando a hipótese de Gaia como o único organismo vivo, e tocada pela singularidade da pandemia global que nos demonstrou a incapacidade de pensar sozinhos, Sarti idealizou seu corpo sendo transformado em uma frondosa árvore, com galhos saindo dos pulmões rumo ao céu, para ela, uma maneira de ressignificar a vida.

Em sua performance “A Gira da Mulher Árvore”, alegoria da terra, da qual deflui a “Performance escultórica Mulher Árvore” de GIL; Silvana, conduzida pela música de Laudanna, gira em torno de si mesma, num ritual de elevação onde céu e terra se conectam, num ritmo lento, de modo a restabelecer a harmonia e o entendimento de quem somos, criando um momento estético-meditativo e oportunizando a criação de uma série de pequenas esculturas, vídeos e textos pelo escultor. As esculturas, feitas em plastilina, material a base de argila e cera, que nunca seca completamente, podendo ser remodelado inúmeras vezes ao mesmo tempo que precisa ser protegido para que não se danifique, sintetizam e captam a essência dos movimentos, a exemplo da modelagem escultórica de modelos vivos, propondo uma reflexão sobre a possibilidade de uso, reuso e preservação, com uma matéria que pode ser modificada por ser flexível, mas que pode ser prejudicada pelo mesmo motivo.

Vídeos, textos e sketchs agregam às esculturas uma atmosfera que reflete o ritmo meditativo do momento da criação, ao mesmo tempo que potencializam a representação da performance em uma plataforma totalmente inusitada, buscando exprimir a mesma mensagem de beleza e comunhão com a natureza.

 

Sobre os artistas

Silvana Sarti é artista visual, performer e atriz de teatro físico, formada em Letras e Desenho, tendo como poética as formas rituais de conceber a natureza com influência da cosmovisão ameríndia. Pesquisa em diversos meios como pintura, desenho, ilustração, fotografia, áudio e vídeo, com maior ênfase à performance.

Entre sua produção destaca-se a Trilogia da Vida, uma fotoperformance, feita entre Itália e Brasil, já parcialmente exposta em Sorocaba na plataforma virtual da Fernanda Monteiro Galeria de Arte em abril de 2021  e publicada na Climacom/Unicamp. Participou da coletânea de obras Arte na Espreita e na Espera Vols. 1, 3 e 5, com curadoria de Bené Fonteles. E integrou a mostra 15o. SOStierra Arte Acción Internacional 2020, Curadoria Daniel Acosta, Buenos Aires.

Sua fotoperformance e performance “Para parir meu avô” fizeram parte da exposição coletiva Meios e Processos de Criação em Arte, com orientação de Katia Salvany e curadoria de Ana Carolina Ralston, na FAMA - Fábrica de Arte Marcos Amaro - 2020. “Ondas Longínquas” faz parte da mostra virtual do 16° SOStierra Arte Acción Internacional 2021, Pacha Alborotada, curadoria Daniel Acosta, Buenos Aires - Argentina.

  Gilberto Alves Gomes - GIL é artista visual que transita entre a escultura, a pintura, o desenho e o entalhe em pedra e madeira.  Apaixonado pela figura humana, aproxima suas investigações artísticas do campo sagrado, da mitologia e dos arquétipos, sempre com um olhar atento às questões que circunvizinham o corpo na contemporaneidade. Com participações em diversas exposições desde os anos 70, entre elas MASP - Museu de Arte de São Paulo com a mostra coletiva “Nossa Gente”, e entre as mais recentes a da FAMA - Fábrica de Arte Marcos Amaro/Meios e Processos (2019), curadoria Ana Carolina Ralston. Participou de vários cursos de formação artística em destaque a orientação de arte com a artista Raquel Fayad, escultura com Cícero D’Ávila e Israel Kislansky, acompanhamento artístico com o curador Allan Yzumizawa no SESC Sorocaba - SP e recentemente foi mentorado pela artista e professora Katia Salvany em seus grupos de Mentoria Artística Sistêmica.

Rosalina Burgos é Geógrafa, Doutora em Geografia pela Universidade de São Paulo, docente do Departamento de Geografia, Turismo e Humanidades da Universidade Federal de São Carlos e do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Condição Humana (PPGECH)/UFSCar. Dedica-se à temática dos espaços públicos e vida cotidiana. Entre 2017 e 2018 realizou pós-doutorado no Programa de Integração da América Latina sobre a gênese e transformação do espaço público, tendo como área de estudo centros históricos e arqueológicos no litoral sul paulista (Iguape) e região das missões jesuíticas-guarani (fronteira Brasil-Paraguai-Argentina) e Colônia do Sacramento (Uruguai) no cone-sul latino-americano. A fotografia está presente em alguns de seus Projetos de Extensão, metodologias de pesquisa e documentação científica. Apaixonada por cidades e mares, é poetisa por natureza.

 

Giuseppe Laudanna nasceu em Airola (BN) Itália, diplomado em piano no Conservatório de Música San Pietro em Majella de Nápoles e em Música Jazz no Conservatório "Nicola Sala" de Benevento. Inúmeras foram suas colaborações e concertos, em particular no campo da música “Etno-world” e jazz: Eugenio Bennato, Pietra Montecorvino, Patrizio Trampetti, Marisa Sannia, Mimmo Epifani, Marco Zurzolo e outros. Destaque para a trilha sonora Mil e Uma Noites Atrás - Taranta Power, La Stanza Dello Scirocco, do filme com Giancarlo Giannini com Eugenio Bennato e Fondali Notturni de Nino Russo com Massimo Ranieri e Ida De Benedetto. Ocupou a cadeira de Pianista de Acompanhamento no Conservatório de Música Torrefranca di Vibo Valentia e atualmente leciona piano no ICS de Piovene Rocchette.

 

Fernanda Monteiro, encarregada da curadoria e produção cultural, é Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Sorocaba (2002), pós-graduada em Direito Constitucional pela Escola Superior de Direito Constitucional de São Paulo (2004);  formada em Arte pela Escola Panamericana de Arte e Design de São Paulo (2009) com Licenciatura em Arte pela Faculdade Anhanguera de Sorocaba (2011) e Mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade de Sorocaba (2017). Foi pesquisadora participante de Grupo de Pesquisa em Imagens Midiáticas Universidade do Sorocaba (2014-2017) e do Grupo de Pesquisa Teoria Crítica e Sociedade do Espetáculo na Faculdade Cásper Líbero-SP (2016-2017). 

É proprietária e gestora da Fernanda Monteiro Atelier e Galeria de Arte em Sorocaba, um espaço multifacetado, onde coexistem uma escola de arte e uma galeria de arte contemporânea, que abriga exposições, eventos e ações artísticas com o objetivo de aproximar o público interessado das práticas artísticas contemporâneas, proporciona ao visitante mediação durante as exposições e um contato direto com o artista, através de um Núcleo de Formação. É uma das idealizadoras e produtora da SEM AVISO, Semana de Arte Visuais de Sorocaba, evento plural, que propõe a articulação entre diversos espaços culturais da cidade, com o intuito de difundir e projetar a arte do interior paulista.