Fernanda Monteiro

exposições:

R. Museu da Memórias imaginadas. Juliana Torres

Museu das memórias imaginadas.

            Para onde vão nossas memórias quando somos afetados pelo esquecimento? Seria este mesmo esquecimento que nos saqueia as lembranças o responsável pela sua universalização? Quando nos apropriamos de uma memória alheia, consciente ou inconscientemente, invertemos os papéis e passamos de coadjuvantes à autores. Autores de uma lembrança coletiva, na medida em que se constrói com bases flutuantes, fincadas no imaginário, que completa a imagem sobrevivente.

            A imagem sobrevivente tem vida própria. É um registro que passa do documental ao anacrônico no momento em que ocorre esta apropriação. Através dela viajamos no tempo, assumimos identidades outras, nos constituímos como sujeitos de uma cena de ficção. Se a imagem fotográfica consegue congelar o instante não sei, parece-me que ela cria este instante, como uma fenda temporal a ser preenchida por um sujeito qualquer. Uma fenda que cria um tempo fisicamente inexistente que nos mantém em suspensão, tentando preencher ausências,  lapsos, de imaginação.

            Quem se lembra do seu quinto aniversário ou da sua formatura na educação infantil? Em  caso afirmativo, provavelmente ancorado nas imagens de um álbum de família, com registros feitos por outras pessoas diferentes de você.O que é real, o que é ficcional, o que é próprio, o que é alheio? A memória pertence ao campo da ambiguidade, a mesma que nos seduz na Arte Contemporânea. Aliás, o que é o contemporâneo senão um tempo além do tempo, com o tempo. A Arte cria o tempo, o lapso, a fresta, o atemporal, o anacrônico, o paradoxo.

            Assim, Juliana Torres nos convida a viajar neste tempo, evocando imagens de outros tempos, que se fundem e criam o Museu de Memórias Imaginárias, onde se busca preservar inutilmente o que é fugaz.

Fernanda Monteiro