Fernanda Monteiro

exposições:

S9a.Calendário ARCO 2024. Paisagem urbana: um pensamento sobre o emaranhado das cidades. Marly Madia

Paisagem urbana: um pensamento sobre o emaranhado das cidades

Artista: Marly Madia

Curadoria: Fernanda Monteiro

Local: Fernanda Monteiro Atelier e Galeria de Arte

Abril de 2024

Abertura: terça feira dia 09 de abril, das 19 às 22h

Período expositivo: de 10 de abril a 10 de maio, de segunda à sexta-feira das 14 às 19h

 

Texto curatorial:

 

A representação da paisagem, em especial a urbana, remonta à antiguidade clássica. Em um afresco nos Banhos de Trajano, em Roma, podemos vislumbrar, a partir da visão aérea de um pássaro, uma antiga cidade romana. Na Idade Média, aparecem paisagens urbanas como plano de fundo de retratos bíblicos. Entre os séculos XVI e XVIII, gravuras foram executadas tendo como tema as cidades, mas foi no século XVII que a paisagem urbana surgiu como um gênero independente na pintura, entre as quais está a View of Delft de Vermeer. O século XVIII foi um período de grande produção do gênero com destaque para as representações de Veneza por Canaletto.

No final do século XIX, os impressionistas se concentraram no dinamismo da vida cotidiana e abriram espaço para a representação  de áreas industriais, estaleiros e áreas suburbanas, ressignificando o interesse pelas paisagens. No século XX, o abstracionismo parece ter ofuscado a exploração do tema, porém, a cidade estava presente nas pinturas geometrizadas de Mondrian, como na Broadway Boogie Woogie. O hiper-realismo americano da década de 70, fez emergir com toda a força o interesse sobre a paisagem urbana.

Mas afinal de contas o que é que chama a atenção para que o contexto urbano seja digno de se imortalizar através da arte? Talvez a sensação de pertencimento, de identidade. Nos reconhecemos na trama das cidades, somos seduzidos por sua parafernália e contribuímos para o caótico com nosso estilo de vida. A cidade reflete nossa desorganização, nossas obscuridades, nosso caráter e comportamentos contraditórios. A cidade é tão viva quanto seus habitantes, que se apropriam de seus espaços e os ressignificam pelo uso ou mesmo pela afetividade. É ela uma parte significativa de nossas vidas, onde construímos diariamente nossas histórias, onde compartilhamos nossas experiências, um local que nos estressa, mas também nos traz paz. Um contexto complexo, palco das cenas triviais e acontecimentos memoráveis da nossa existência, Neste sentido ela faz parte de nós mesmos, é impossível ficar indiferente a ela, pois é a cidade o nosso microcosmos.

Na pintura e na fotografia de Marly Madia, podemos dialogar sobre a percepção espacial da cidade sob um prisma singular. Ela nos oferece uma perspectiva distinta na medida em que nos mostra através do seu olhar artístico a poesia por trás do corriqueiro. É interessante sua reflexão sobre o que a princípio pode parecer somente um emaranhado de fios; o que ela nos sugere está para além da constatação de um ambiente díssono, onde há ruídos visuais por toda parte. Ela orquestra com maestria essa confusão de linhas e nos oferece imagens ritmadas, únicas no seu desafino. O que para alguns é só um amontoado, para ela é um interessante novelo com o qual ela tece uma malha de reflexões sobre pequenos fragmentos que nos cativam, criando uma metonímia, uma maneira de discursar sobre o todo pela parte.

Fernanda Monteiro

 

Sobre a exposição:

Iniciando o calendário ARCO 2024, a Fernanda Monteiro Galeria de Arte tem o prazer de apresentar a exposição Paisagem Urbana: um pensamento sobre o emaranhado da cidade, da artista sorocabana Marly Madia.

Marly é uma artista de 86 anos com um refinado olhar sobre o cotidiano. Nesta exposição, de curadoria de Fernanda Monteiro, gestora cultural e proprietária da Fernanda Monteiro Galeria de Arte, em operação em Sorocaba desde 2010, podemos disfrutar de pinturas, desenhos, gravuras e fotografias realizados pela artista entre 1995 e 2024, um pequeno recorte de extensa produção. As peças escolhidas trazem a trama da cidade, uma tecitura de linhas e fios que compõem a malha urbana recortada e redesenhada em composições criadas pela artista a partir de sua caminhada pelas ruas das cidades, especialmente de Sorocaba, onde nasceu e se criou, solo onde constituiu família e vive até hoje. Observando atentamente o traçado das construções, os caminhos aéreos desenhados pelos cabos de energia, o meio fio entre a rua e a sarjeta, os espaços criados pelas sombras da vegetação ou pelo reflexo do sol nas vidraças das janelas, Marly cria um código, uma linguagem própria para nos provocar a aguçar os sentidos, respirar e ser capaz de perceber que em tudo há uma estética que merece nossa atenção.

 

Um pouco sobre a artista

 

Marly Madia é natural de Sorocaba, teve renomados professores dentre os quais estão Lúcia Castanho, Rubens Matuck, Carlos Fajardo e Leda Catunda. Iniciou sua carreira artística profissional na década de 90, época em que participou do movimento Terra Rasgada, promovido pelo Sesc, de 95 a 98. Em 95 expôs na Galerie Eugenie Villien (SP), junto com outros artistas do núcleo de aquarelistas da Faculdade Santa Marcelina. Em 96 no Museo Nacional de La Acuarela do México. Em 2002, ganhou o Prêmio Flávio Gagliardi de Artes Visuais em Sorocaba (medalha de ouro, na categoria Contemporânea). Em 2006, classificou-se na etapa estadual  do Mapa Cultural Paulista e no mesmo ano foi Menção honrosa no Concurso Talentos da Maturidade do Banco Real. No ano seguinte, participou da primeira Bienal de Arte de Sorocaba, organizada pelo leiloeiro Haroldo Grossi em parceria com a Galeria Maly Villas Boas e outros. Em 2008, expôs em Nova York, na mostra Bravo, na New Century Artists INC em Chelsea. Participou com o grupo SOMA Arte de diversas exposições e intervenções artísticas (2008 a 2012) entre elas Arte não é Mercadoria, Arte na cidade, Kromossoma e Atua Arte, esta última na Fernanda Monteiro Galeria de Arte.

 

Sobre a galeria

 

A Fernanda Monteiro Galeria de Arte é uma das galerias pioneiras na cidade de Sorocaba, em funcionamento desde 2010 no mesmo endereço e já promoveu mais de 50 exposições dentro e fora de seu espaço físico. Tem como gestora cultural e curadora a artista Fernanda Monteiro. É uma Galeria especializada em arte contemporânea que trabalha com um corpo de artistas que vivem e/ou desenvolvem suas atividades aqui na cidade, mostrando, comercializando e prestigiando a pujante produção artística local. A Galeria funciona de segunda a sexta das 14 às 19h.

O CALENDÁRIO ARCO (ARte COntemporânea) foi idealizado pela Fernanda Monteiro Galeria de Arte para criar e organizar um cronograma anual de exposições, o que já vinha acontecendo há algum tempo na Galeria. Está em sua quarta edição, tendo iniciado em 2020 com a Exposição FLUIR  da artista Zi Cossermelli.